Casal Ventoso

Toponímia

A área do Casal Ventoso surge identificada num mapa de Lisboa de 1837 sob a designação de Castelo Ventoso. A palavra Ventoso teria a ver com o facto de aí soprarem ventos de encosta originários do Tejo e da serra de Monsanto.

Génese

No início do século XX toda a face do Vale de Alcântara assumira já a imagem de conjunto que iria permanecer até ao dealbar do presente século XXI. Tratava-se de uma imagem que se encontrava recortada por uma profunda diversidade em termos sociais e de qualidade habitacional. Assim, no lugar mais elevado da encosta, situava-se Campo de Ourique, que possuía os imóveis mais valorizados, apropriados por classes elevadas.

Seguia-se a área residencial operária, cuja qualidade habitacional se ia degradando à medida que a encosta declinava, a ponto de, ultrapassada a Rua Maria Pia, já numa zona muito próxima da Ribeira de Alcântara, a qualidade da habitação se deteriorar de forma clara. Esse “outro lado” da Rua Maria Pia correspondia ao Casal Ventoso.

O facto de se encontrar situado num morro e a aparência do tecido residencial levavam a que, à distância, o Casal Ventoso se assemelhasse visualmente às favelas do Rio de Janeiro. Alguns dos aspetos mais conhecidos do bairro, nomeadamente a pobreza e, mais tarde, a proliferação do comércio de drogas, vieram estreitar cada vez mais as associações produzidas no imaginário lisboeta entre essa região urbana e as favelas sul-americanas.

Crescimento do bairro

O período entre 1919 e 1945, findo o qual o bairro ficou praticamente concluído, foi sobretudo caracterizado por uma atividade de construção orientada para a edificação da própria casa. Esta autoconstrução foi de dois tipos. Num primeiro, a construção foi antecedida da aquisição do respetivo lote não urbanizado, tendo o processo incluído dinâmicas de contratação informais. Num segundo, a construção não se baseou na aquisição de lotes não urbanizados, mas na apropriação direta de terrenos abandonados, onde a edificação parecia impossível. Tal processo de ocupação correspondeu às formas de construção menos valorizadas, dando origem sobretudo a barracas relegadas para a parte inferior da encosta. A restante encosta encontrava-se despida, não comportando qualquer edificação, dada as particularidades do terreno que tornavam a construção problemática.

Caracterização Social

A conhecida escadinha do bairro terminava num dos túneis ferroviários e era designada como Escadinha da Morte, em virtude da incidência elevada de mortes decorrentes de toxicodependência. Durante o período do Estado Novo decorreram ações de socorro a situações de maior carência. As intervenções foram realizadas num contexto socio caritativo cujas probabilidades de alterar os processos de reprodução social internos eram baixas.

Realojamento

O processo de realojamento teve início no ano de 1999, no mesmo ano em que a última barraca do bairro foi demolida. A larga maioria da população foi realojada nos novos bairros do Vale de Alcântara.