Nos bastidores da Moda Lisboa

Outubro/2022

O mais importante evento de moda da capital, com duas edições anuais apoiadas pela autarquia, é, para muitos, um acontecimento remoto.

Para outros, é marcado pelos desfiles das coleções dos estilistas, ou pela presença de celebridades dos meios sociais. No entanto, para que este momento de criatividade e inquietude artística tenha lugar, centenas de pessoas trabalham arduamente para que a magia aconteça.

Dos estilistas e manequins aos cabeleireiros e maquilhadores, passando por técnicos de som e luz, eletricistas municipais, bombeiros sapadores e aderecistas, todos são importantes para o sucesso deste evento, com peso na economia, projeção cultural e influência no vestir do nosso futuro.

Luís Pereira – diretor de bastidores

Há 30 anos a colaborar com a Moda Lisboa, este antigo manequim passou a trabalhar na organização de bastidores e é hoje o responsável pelo casting de todos os desfiles.

 

Um mês ou dois antes de cada edição, arregaça as mangas para preparar os desfiles, incluindo as relações com as agências de modelos e o casting a atribuir a cada designer.

 

“A minha função é gerir estas equipas todas, umas seis, aqui atrás, nos bastidores. São manequins, aderecistas, cabeleireiros, orientadores, voluntários... Depois, tenho que preparar os desfiles, com luz e som.”

 

Mais perto do evento, trata de organizar o espaço dos bastidores e as equipas que aí vão trabalhar, envolvendo cerca de 300 pessoas, contratadas para o evento.

 

“São muitas equipas ao mesmo tempo a funcionar. Temos quatro cabinas e chega uma hora em que estão as quatro cabinas todas a funcionar, com vinte e tal manequins cada uma, mais dez aderecistas. Há ainda os espaços das equipas de cabelos e maquilhagem. Só a maquilhagem deve ter à volta de vinte ou trinta profissionais.”

Antónia Rosa - maquilhadora

Trabalha na Moda Lisboa desde a primeira edição, em 1991.

 

Coordena as 32 maquilhadoras presentes nesta edição. Por dia, passam pela maquilhagem entre 120 e 200 manequins.

 

“Os maquilhadores são todos formados por mim, para terem a minha técnica, pois tive que adaptar o trabalho à Moda Lisboa, que é um trabalho muito diferente. Como as raparigas são maquilhadas quatro ou cinco vezes por dia, tive que adaptar, para não haver alergias, para a maquilhagem ser bonita e fresca.”

 

Sempre na vanguarda, Antónia tem que acompanhar a evolução das técnicas e das tendências da moda nesta área. Num evento como este, não há espaço para erros: “Eu sou muito positiva, quando eu vejo que a coisa vai correr mal, pego nela e vai correr bem de certeza, porque... não pode correr mal. Nunca.”

Helena Vaz Pereira - cabeleireira

Há 25 anos que trabalha para a Moda Lisboa, e há muitos mais lida com cabelos. Coordena a equipa de cabeleireiros. Constata ter havido uma grande evolução na arte de pentear.

 

“Quando eu comecei tudo era diferente. Hoje temos outros apoios. Os tempos mudam e moda acompanha isso e os eventos também. Temos sempre que nos estar a adaptar, a acompanhar, a vida muda, o mundo muda, os cabelos também.”

 

Por dia, passam pelas mãos dos cabeleireiros vinte manequins por desfile. É fazer as contas: são sete ou oito desfiles por dia e três dias de desfiles. Cada desfile tem apenas cerca de vinte minutos, mas são necessárias muitas dezenas de horas de preparação. É um trabalho de equipa, entre a direção artística, o designer e o make up. Uma semana antes, é preciso entender a história que o designer quer contar e começa o processo criativo. No dia do desfile as ideias estão definidas.

 

“Fazemos sempre um teste de imagem. Às vezes pensamos que é isto que vamos fazer mas, quando executas, evoluis para outra coisa. Isso é a parte boa de todo este processo. Quando todas as manequins estão à boca de cena, tudo tem que estar coerente com a história. Tens que conseguir adaptar cada cabelo à imagem total que foi definida entre todos.”
 

Ana Carolina Fernandes – aderecista

Licenciada em Design de Moda, está a fazer o mestrado na Faculdade de Arquitetura.

 

Foi aluna de Eduarda Abbondanza, diretora artística e presidente da Associação Moda Lisboa, entidade responsável, com a Câmara Municipal de Lisboa, pela organização do evento. São cerca de trinta aderecistas, ocupando-se cada uma de dois ou três manequins por desfile, que ajudam a despir e vestir.

 

“Somos motivados para inscrever-nos em regime de voluntariado, porque é uma experiência conhecer o que é que está por detrás da passerelle e acabamos por conhecer um bocadinho melhor a nossa área.”
 

Alcides Ferreira - iluminação

Há várias edições que faz a iluminação dos desfiles, segundo um projeto e em coordenação com o diretor Luís Pereira, que fornece o guião da coreografia à régie.

 

De ano para ano, vem sendo necessária menos potência de eletricidade, com as novas tecnologias de baixo consumo, agora opera com potências entre 32 e 64 amperes.

 

“Stresse há sempre, com as coisas a acontecer à última hora, mas sempre com tempo para as fazermos como deve ser.”
 

Joana Jorge - diretora de projeto

Designer de moda, Joana colabora com a Moda Lisboa desde há sete anos, fazendo parte da estrutura fixa da organização, que emprega uma dezena de elementos, mantendo a Associação Moda Lisboa a funcionar.

 

Coordena o projeto de cada edição, ao lado de Eduarda Abbondanza, presidente da Associação Moda Lisboa – e é também a “apanha bolas” quando o imprevisível acontece. Trabalha com as várias equipas, do planeamento do espaço à comunicação, passando pelo casting e organização dos desfiles.

 

“A nossa equipa é muito pequena, depois cresce para um bolo um pouco maior com as pessoas que trabalham connosco todas as edições, num período mais alargado – estamos a falar de pessoas de produção, estamos a falar de pessoas da parte dos conteúdos, na organização e construção dos vários projetos.

 

Nos dias do evento multiplicamos ainda mais: temos equipas de bastidores, maquilhadores, manequins, mas também as equipas dos designers, que também fazem parte da família alargada da Moda Lisboa.”
 

Luís Buchinho - estilista

Presente na Moda Lisboa desde a primeira edição, em1991, cada nova presença é sempre um desafio.

 

A coleção apresentada nesta edição foi inspirada no romance “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley. A preparação começou cedo, há cerca de meio ano, com umas semanas para desenvolver as ideias e cinco meses de preparação (desenhar, fazer os primeiros moldes, escolher os materiais, executar protótipos), avançando por tentativa e erro.

 

E quando chega o momento da verdade? “Não, não há muito stress. Eu, na véspera, o que faço sempre é: venho à Moda Lisboa tomar conhecimento do espaço, perceber como funciona e como é que vou conseguir potenciar a minha mensagem da maneira mais impactante. Ontem passei basicamente a noite no hotel a pensar como é que poderia fazer uma coreografia que contornasse o facto de termos duas salas.”

Vitória Mota - manequim

Atualmente com 26 anos, começou “um pouco tarde” como manequim (aos 20 anos).

 

Já desfilou nalgumas edições da Moda Lisboa, sempre através da mesma agência. Em cada edição, passa modelos das coleções de seis ou sete estilistas, que já conhece de anteriores trabalhos.

 

“Eu adoro estar em Portugal e fazer os desfiles com os nossos designers, é como se fossemos uma família. E encontrar pessoas que conheço. É super bom!”
 

José Carvalho - fotógrafo

Trabalha para uma agência de notícias norte americana. Cobre os eventos da Moda Lisboa desde 2012 e guarda em arquivo todas as fotos que fez.

 

Para contar a história da moda em Portugal, são milhares as fotos por dia em cada edição, entre desfiles, bastidores, público e figuras da sociedade. O centro do trabalho são, naturalmente, os desfiles.

 

“Nós fazemos uma média, por desfile, mil e tal fotos. Temos que ter uma certeza e, de acordo com a luz que nós temos, não falhar nenhum plano. Usamos sempre sequências de dez, doze fotografias por assunto, para que, pelo menos, saiam sempre duas ou três que estejam corretas.”
 

Paulo Batista - Bombeiro Chefe

No Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa há 35 anos, conhece bem o funcionamento da Moda Lisboa.

 

O trabalho da equipa de 11 elementos do RSB aqui destacada, com uma viatura de combate a incêndio urbano e malas de primeiro socorro, é, sobretudo, o de prevenir.

 

“Face a qualquer incidente, a qualquer acidente, quer a nível de danos humanos, vítimas, quer a nível de incêndios, estamos cá para qualquer ocorrência.”