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Cultura 

"E Depois do Adeus". A senha da Revolução, explicada por Paulo de Carvalho

No dia 24 de abril de 1974, às 22h55, a música "E Depois do Adeus" viria a ser a 1ª senha da Revolução. 47 anos depois, Paulo de Carvalho conta a história da canção que "tinha alguns recados, mas era essencialmente uma canção de amor."

Paulo de Carvalho - São Luiz Teatro Municipal

"A cantiga nasceu com o José Niza, autor da letra, e o José Calvário, autor da música, para concorrerem ao festival da canção. Entrelinhas tentava-se dar alguns recados às pessoas daí o ´quis saber quem sou, o que faço aqui`. Não era direta, tinha alguns recados, mas era essencialmente uma canção de amor. A letra tem coisas muito bonitas que pouca gente sabe, conta Paulo de Carvalho, em entrevista à Câmara Municipal de Lisboa, que pode ver na íntegra nesta página.

O José Niza fez a tropa em Angola, durante a guerra do Ultramar e este ´quis saber quem sou, o que faço aqui, quem me abandonou, de quem me esqueci` são alguns escritos que ele fez para a Blo, a sua companheira, a sua mulher, em cartas que era o que ele pensava, as questões que ele punha.

Depois, o José Calvário agarrou na música e ambos construíram esta cantiga que venceu aquele festival da RTP e depois foi escolhida para o que foi. Só anos depois é que eu soube porque é que foi, como foi, tudo isso.

A vontade de quem estava a preparar a Revolução do 25 era que fosse, e muito justamente, uma canção do José Afonso, aliás queriam que fosse o ´Venham mais Cinco`, só que seria demasiado evidente e poderia trazer complicações ao que se pretendia. Daí, acho que foi o Otelo e o Costa Martins, dois dos militares que que fizeram a Revolução, que foram ter com o João Paulo Diniz para que ele pusesse o ´Venham mais Cinco` na rádio.

Só que ele achou que não devia ser assim porque muita gente poderia desconfiar e poderia tudo ficar, como se costuma dizer, em ´águas de bacalhau`. Foi escolhida por eles, puseram a música e, como costumo dizer, se estou na história é por acaso.

"Não demos por nada"

Eu estava à porta do meu querido Café Vá-Vá, noutra época, noutros tempos, dentro do carro de um amigo que não tinha rádio e estivemos ali os dois à conversa até ele me ir levar a casa, porque eu também não tinha carro. E estivemos os dois ali à conversa até às 2 ou 3 da manhã, nem demos por nada. Já tudo se estava a passar e não demos por nada.

No outro dia, acordei à uma da tarde, os telefones não funcionavam, portanto não me puderam telefonar. Acordei a baterem-me à porta ´Epá, um golpe de estado e tal, parece que há um golpe de estado, uma revolução` e a minha saída, na altura o que me ocorreu dizer foi, ´mas para melhor ou para pior?` ´não se sabe`... ´então deixa-me dormir`. Brincadeiras da altura.

A partir daí, foi vir para a rua e viver tudo a correr, a correr. Todos os dias eram dias de vivência a correr.

60 anos de cantigas

Para o ano de 2022, eu já faço 60 anos de cantigas e ainda não dei por isso ´Epá, já cheguei aqui???!!!`.

Isto faz-se todos os anos, todos os dias com a música que nós gostamos de fazer, se temos essa possibilidade. A esperança, em relação a esta música e a outras, somos nós que a construímos todos os dias. Nós, povo português.

Porquê? Porque temos essa necessidade e, infelizmente, ainda temos a necessidade de viver um bocado da esperança porque a nossa vida ainda…

"A cantiga nasceu com o José Niza, autor da letra, e o José Calvário, autor da música, para concorrerem ao festival da canção. Entrelinhas tentava-se dar alguns recados às pessoas daí o ´quis saber quem sou, o que faço aqui`. Não era direta, tinha alguns recados, mas era essencialmente uma canção de amor. A letra tem coisas muito bonitas que pouca gente sabe, conta Paulo de Carvalho, em entrevista à Câmara Municipal de Lisboa, que pode ver na íntegra nesta página.

O José Niza fez a tropa em Angola, durante a guerra do Ultramar e este ´quis saber quem sou, o que faço aqui, quem me abandonou, de quem me esqueci` são alguns escritos que ele fez para a Blo, a sua companheira, a sua mulher, em cartas que era o que ele pensava, as questões que ele punha.

Depois, o José Calvário agarrou na música e ambos construíram esta cantiga que venceu aquele festival da RTP e depois foi escolhida para o que foi. Só anos depois é que eu soube porque é que foi, como foi, tudo isso.

A vontade de quem estava a preparar a Revolução do 25 era que fosse, e muito justamente, uma canção do José Afonso, aliás queriam que fosse o ´Venham mais Cinco`, só que seria demasiado evidente e poderia trazer complicações ao que se pretendia. Daí, acho que foi o Otelo e o Costa Martins, dois dos militares que que fizeram a Revolução, que foram ter com o João Paulo Diniz para que ele pusesse o ´Venham mais Cinco` na rádio.

Só que ele achou que não devia ser assim porque muita gente poderia desconfiar e poderia tudo ficar, como se costuma dizer, em ´águas de bacalhau`. Foi escolhida por eles, puseram a música e, como costumo dizer, se estou na história é por acaso.

"Não demos por nada"

Eu estava à porta do meu querido Café Vá-Vá, noutra época, noutros tempos, dentro do carro de um amigo que não tinha rádio e estivemos ali os dois à conversa até ele me ir levar a casa, porque eu também não tinha carro. E estivemos os dois ali à conversa até às 2 ou 3 da manhã, nem demos por nada. Já tudo se estava a passar e não demos por nada.

No outro dia, acordei à uma da tarde, os telefones não funcionavam, portanto não me puderam telefonar. Acordei a baterem-me à porta ´Epá, um golpe de estado e tal, parece que há um golpe de estado, uma revolução` e a minha saída, na altura o que me ocorreu dizer foi, ´mas para melhor ou para pior?` ´não se sabe`... ´então deixa-me dormir`. Brincadeiras da altura.

A partir daí, foi vir para a rua e viver tudo a correr, a correr. Todos os dias eram dias de vivência a correr.

60 anos de cantigas

Para o ano de 2022, eu já faço 60 anos de cantigas e ainda não dei por isso ´Epá, já cheguei aqui???!!!`.

Isto faz-se todos os anos, todos os dias com a música que nós gostamos de fazer, se temos essa possibilidade. A esperança, em relação a esta música e a outras, somos nós que a construímos todos os dias. Nós, povo português.

Porquê? Porque temos essa necessidade e, infelizmente, ainda temos a necessidade de viver um bocado da esperança porque a nossa vida ainda não está assente. Nós, pretensamente, vivemos numa democracia e essa democracia ainda não está a funcionar muito bem e temos provas disso todos os dias.  Daí que a esperança não morra, aliás como se costuma dizer, a esperança é sempre a última a morrer."

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